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domingo, 21 de novembro de 2010

Metamorfose

-> resenha de A Metamorfose, de Franz Kafka.

"- Ele tem que ir embora! - gritou a irmã. - É o único jeito, pai. O senhor precisa se desfazer da idéia de que aquilo é o Gregor. Acreditar nisso, durante tanto tempo, tem sido a nossa desgraça. Como pode ser Gregor? Se fosse, há muito teria percebido que seres humanos não podem viver com um bicho como aquele".


Num ato de desespero Greta, a irmã de Gregor Samsa, tenta dissuadir os pais a se livrar dele. É assim, de forma cruel, que Franz Kafka retrata a saga do jovem que um dia acordou transformado num inseto, em A Metamorfose (1916).

Logo nos primeiros parágrafos o autor descreve minuciosamente os sentimentos e até dores físicas do jovem que tem que aprender a lidar com as várias perninhas descoordenadas debaixo de um casco aspero. O que mais preocupa o leitor é que ele é o provedor da família Samsa, já que a mãe e o pai são idosos e a irmã tem apenas 17 anos. Os dias se passam e a tensão só aumenta, pois trancada dentro do quarto a criatura tenta entender a reação dos pais, principalmente da mãe, diante da situação. Por mais animal que seja em seus aspectos físicos ele ainda tem sentimentos humanos, como preocupação e medo.

A história não é narrada pelo inseto-personagem e sim por um narrador neutro e por vezes até insensível. A frieza com que é contada a luta da família para ocultar aquela "vergonha" é perturbadora. Somente a irmã entra no quarto para dar comida ao parasita e a mãe se desepera ao ser impedida de fazer o mesmo. O pai passa a viver como se nada tivesse acontecido e até arranja um emprego ao perceber que não há mais volta, alguém precisa sustentar a família.

Kafka é um escritor nascido em 1883 em Praga, na Boêmia - atual República Tcheca. Teve uma vida curta, marcada por desilusões afetivas e doenças. Morreu aos 41 anos sofrendo de tuberculose depois de passar anos em longos tratamentos nos principais sanatórios da Europa.

No artigo O parasita da família, Modesto Carone - principal tradutor e especialista da obra de Kafka no Brasil - faz uma análise de A Metamorfose. Segundo ele, o fato dessa obra ter sido uma das poucas que o escritor publicou em vida "talvez tenha contribuído para que ela tenha se transformado numa das principais marcas registradas da ficção kafkiana". Para ele a crueldade com que a narrativa se desenrola fica explícita quando o autor diz logo no primeiro capítulo que "não era um sonho", para "não alimentar falsas esperanças em ninguém".

É a primeira obra de Kafka que eu leio. Penso que comecei pela obra certa, apesar de essa não ser a ordem cronológica de suas publicações - tão pouco acredito que deva ler as obras em sua ordem exata - mas me interessei muito pelo autor. Encontrei muitos artigos sobre ele, o que aguçou ainda mais minha vontade de conhecê-lo melhor.

Recomendo.

*imagem da publicação original, de 1916, via Google Imagens.

Um comentário:

Carlos Tonet disse...

Li Metamorfose e Carta ao Pai. Mas gostei mais de O Processo. Até roubei o livro...